Ciência & Saúde
Washington, 14 fev 05 (EFE). Um tratamento genético que promove o crescimento de células no ouvido interno parece ser uma cura para a surdez, pelo menos em animais de laboratório, segundo um artigo divulgado nesta segunda-feira pela publicação NewScientist.
“É a primeira vez que alguém restabeleceu, por meios biológicos, o sentido auditivo de animais”, disse Yehoah Raphael, da Universidade do Michigan, que liderou a equipe japonesa-americana que desenvolveu a técnica.
A perda gradual, parcial ou total da capacidade de audição atinge milhões de pessoas a cada ano no mundo todo, e pode ser causada pela destruição de células capilares no ouvido interno, pela exposição a ruídos muito fortes, pelo uso de certos antibióticos ou, simplesmente, por causa da idade avançada.
As incapacidades auditivas atingem cerca de 11 milhões de pessoas nos EUA, isto é, aproximadamente 4,2% da população total. Na cóclea, a parte do ouvido interno que registra o som, as células capilares atuam como microfones microscópicos que capturam as vibrações sonoras do fluido no ouvido e transformam o movimento em sinais nervosos.
O tratamento da equipe liderada por Raphael promove o crescimento dessas células capilares. Depois do tratamento, os cientistas usaram sensores com eléctrodos em volta da cabeça dos coelhos demonstrando que os nervos auditivos dos animais tratados registravam sons.
Os coelhos que não receberam o tratamento não mostraram essa recuperação da capacidade auditiva. “Uma possibilidade seria o uso do tratamento para melhorar a audição das pessoas que já usam implantes cocleares”, disse Raphael.
No laboratório, Raphael e sua equipe primeiro administraram aos coelhos antibióticos que destruíram as células capilares no ouvido interno, e depois, aparentemente, consertaram o dano com a injecção de adenovírus modificados por manipulação genética.
A engenharia genética faz com que os vírus sejam inócuos ao mesmo tempo que introduzem um gene chamado Atoh1 nas células que revestem a escala média, a câmara-chave da cóclea que contém as células como cabelos.
O artigo explicou que o gene Atoh1, conhecido também como Math1, produz uma célula matriz que dirige o desenvolvimento das células capilares nos embriões. “O experimento deu resultados que superaram as expectativas”, afirmou o artigo da NewScientist.
A recuperação das células capilares levou os ouvidos tratados a uma recuperação de 50% a 80% de seus níveis de audição originais.
O que mais surpreendeu os cientistas foi que as células capilares foram criadas a partir de células que revestem a escala média, que, segundo a biologia ortodoxa vigente, não deveriam ser capazes de se transformar em células diferentes.
Mas há muitos obstáculos que devem ser superados antes que esta técnica possa ser usada em seres humanos, alertou Raphael. “Por exemplo, a escala média está localizada em um local profundo do crânio humano, o que a torna virtualmente inacessível para a cirurgia”, acrescentou. “E também existe a possibilidade de que o sistema de imunidade humano rejeite os vírus.”
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