Inclusão Social e Educacional

Comentário SACI: Publicado na edição de Novembro 2004.
Cristiane Martin Bianco Perini*
Jornal LEIA São Bernardo – 15/12/2004

Todos somos diferentes, e porque não aceitar a diversidade humana?

Essa é a pergunta que fazemos quando pensamos no porquê da inclusão de portadores de necessidades especiais ser uma batalha.

Uma briga que vem de muitos anos e se intensificou com a Declaração de Salamanca (Espanha-1994) que teve origem na Declaração Mundial de Educação para Todos, inspirada no princípio de respeito às diferenças, promovendo a aprendizagem e atendendo às necessidades de cada um. Hoje, após 10 anos de sua origem, a inclusão social e educacional é tema de muitas discussões na sociedade e ainda estamos caminhando para sua implantação. Pensar em inclusão social nos remete, necessariamente, ao seu reverso: a exclusão social. Os dados da realidade brasileira e mundial são tão marcantes quanto a exclusão que, ao pensarmos em um projecto sobre ética e cidadania, somos levados a estabelecer a inclusão como um desejo, uma realidade que só será alcançada com grandes transformações sociais e políticas.

Apenas cerca de 1% dos deficientes físicos frequentam algum tipo de escola na maioria dos países em desenvolvimento. Para incluir todas as pessoas, a sociedade deve ser modificada a partir do entendimento de que ela é que precisa ser capaz de atender às necessidades de seus membros. Buscar estratégias que se traduzam em melhores condições de vida para população, na igualdade de oportunidades para todos os seres humanos e na construção de valores éticos socialmente desejáveis por parte dos membros das comunidades escolares, é uma maneira de enfrentar essa situação e um bom caminho para um trabalho em busca da democracia e da cidadania. O desenvolvimento (por meio da educação, reabilitação, qualificação profissional etc.) das pessoas com deficiência deve ocorrer dentro do processo de inclusão e não como um pré-requisito para estas pessoas poderem fazer parte da sociedade, como se elas precisassem pagar “ingressos” para integrar a comunidade. A prática da inclusão social repousa em princípios até então considerados incomuns, Como a aceitação das diferenças individuais, a valorização de cada pessoa, a convivência dentro da diversidade humana e a aprendizagem através da cooperação. A inclusão social do portador de necessidades especiais está além de um espaço para o trabalho, está na aceitação e reconhecimento das diferenças. Geralmente essa aceitação está acompanhada de sentimentos de pena e de, que segundo Marques, em seu artigo Integração: Uma via de mão dupla na cultura e na sociedade, no livro A integração de pessoas com deficiência: contribuições para uma reflexão sobre o tema. (Ed. SENAC, 1997) “o caminho para superação desta questão está na busca e no encontro de um sentido para a existência humana, cujo sujeito, o homem, não está determinado por sua condição física, mental ou sensorial, mas principalmente por seu modo de ser autêntico e único”. Para uma inclusão social ideal, é necessário que todos sejam aceitos e respeitados, que haja acessibilidade em ruas, locais de lazer e transporte, e, além disso, que tenham o direito de inclusão na rede regular de ensino. De acordo com o Censo Escolar de 2003, apenas 28,8% dos estudantes com necessidades especiais estão matriculados no ensino regular. Estar incluso na rede regular de ensino não significa simplesmente estar matriculado e frequentando as aulas, mas que sejam superadas as dificuldades que ainda hoje existem de recursos humanos, arquitectónicos, pedagógicos e físicos. A inclusão, abrangendo conceitos como respeito mútuo, compreensão, apoio e autorização, não é uma tendência, um processo ou um conjunto de procedimentos educacionais passageiros a serem implementados. Ao contrário, a inclusão é um valor social que, considerado desejável, torna-se um desafio no sentido de determinar modos de conduzir nosso processo educacional para promovê-la. No entanto, a inclusão educacional dos alunos portadores, de necessidades especiais depende não somente das adaptações das escolas e do treinamento de professores e estudantes. É necessário preparar os professores para que eles saibam receber os alunos com qualquer tipo de deficiência. É também preciso preparar os pais para que eles possam participar do processo educacional no dia-a-dia da criança.

A inclusão não é uma questão de solidariedade, mas um direito. Aprender é uma acção humana que pode ser realizada por todos.

Cabe a escola fazer sua parte para que a sociedade não continue promovendo a exclusão em suas formas mais subtis e cruéis.

*Cristiane M. B. Perini – CRP – 06/53863-2 – Psicóloga /Educação Especial. Formada na UMESP, (Universidade Metodista de Ensino Superior de São Paulo). Pós Graduada na USP em Violência Doméstica. Diretora de Escola Especial de São Bernardo do Campo.

A Associação de Surdos do Porto (ASP), sendo uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), mantém os mesmos objetivos desde a sua criação, que é defender os Direitos das Pessoas Surdas para que fiquem em pé de igualdade dos demais cidadãos, bem como zelar pelos seus deveres.

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