Na Nicarágua
Agência Ruters – Washington
Por Maggie Fox
Crianças surdas reunidas em uma escola da Nicarágua, sem qualquer espécie de instrução formal, inventaram sua própria lingua gestual – um sistema sofisticado que evoluiu e cresceu – disseram pesquisadores na sexta-feira.
As observações dos pesquisadores demonstram que as crianças, não os adultos, foram cruciais para a evolução e o desenvolvimento da linguagem, reportaram os pesquisadores na edição de sexta-feira da revista “Science”.
“É o nascimento de uma lingua“, disse Ann Senghas, do Barnard College, parte da Columbia University, directora do projecto.
O laboratório vivo é formado por mais de mil crianças de uma escola de Manágua, e foi tornado possível devido à negligência do governo quanto aos deficientes auditivos, antes dos anos 70, um período de grande tumulto social e política na Nicarágua.
As crianças surdas viviam isoladas e quase nunca aprendiam a língua gestual formal, afirmam Senghas e sua equipe internacional de colaboradores.
“As crianças não eram autorizadas a sair da escola e estabelecer relacionamentos. Havia surdos de 50 anos de idade lá que eram incapazes de comunicar”, conta Senghas.
Mas em 1977 uma escola de educação especial foi aberta em Manágua, seguida quatro anos mais tarde por uma escola vocacional. Pela primeira vez, as crianças surdas podiam se reunir e aprender juntas, e se manter juntas enquanto cresciam.
Não havia ninguém que lhes ensinasse a língua gestual formal, de modo que criaram uma linguagem própria.
“O grupo inicial de crianças começou com gestos”, disse Senghas em entrevista por telefone.
“As crianças usavam as mãos para descrever uma bola rolando colina abaixo, mas os alunos presentes no começo dos anos 80 observavam os gestos e os empregavam para produzir alguma coisa muito diferente”, afirma a pesquisadora.
“Eles dividiram o movimento em sinais que significavam ‘rolar’, ‘para cima’ e ‘para baixo”‘, diz.
Trata-se dos blocos básicos de construção de uma linguagem, no caso da língua gestual em forma de movimentos de mão.
“Eles os dividiram em blocos e terminaram com elementos que iam além dos gestos. E assim montaram uma linguagem com blocos reunidos em um número infinito de elementos”.